Sangue, doença e máquina
as ações, relações e modulações entre seres humanos e objetos técnicos na hemodiálise
DOI:
https://doi.org/10.21680/2446-5674.2025v12n23ID39067Palavras-chave:
Doença renal crônica, hemodiálise, máquina, técnica, antropologia da técnicaResumo
A hemodiálise é um tratamento voltado para a doença renal crônica, no qual uma máquina filtra as substâncias tóxicas do sangue do paciente, eliminando os resíduos prejudiciais ao organismo. Trata-se de uma terapêutica onde a técnica tem um papel central tanto para o exercício da medicina, quanto para a restituição do bem-estar dos doentes. Neste artigo, tenciono problematizar justamente os seres humanos (pacientes e equipe médica) e a técnica que o tratamento implica, por meio de uma perspectiva processual e circunstancial, que leve em consideração as ações, relações e modulações que os sujeitos e objetos técnicos colocam em prática. Mostrarei que o sentido da hemodiálise tende a variar conforme as trajetórias dos pacientes, que se conectam à máquina por propósitos diferentes, estando a técnica inscrita em suas vidas. São suas narrativas que revelam as controvérsias a respeito do tratamento, assim como as aprendizagens pelas quais têm que passar para instituir novas normas e modos de existência. No que concerne à equipe médica, veremos que os profissionais apreendem a técnica de formas diferentes. A depender da formação e competência técnica que possuem, eles realizam funções variadas que exigem, por sua vez, entendimento e manuseio específicos, podendo a máquina ser perfeita ou imperfeita, previsível ou imprevisível, de acordo com suas performances. Para tanto, parto de uma etnografia realizada numa clínica de hemodiálise de um hospital público da cidade de São Paulo/SP, na qual analiso a técnica no contexto de vida de três pacientes hemodialíticos, assim como o papel da máquina em meio aos profissionais da clínica. Abrindo mão de apriorismos e essencialismos, meu propósito nada mais é do que apresentar aquilo se passa entre as veias e os fios, portanto, trazendo à tona outros modos de existências e individuações.
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