Medonhos Sertões, Medonhos Sarcófagos: a catábase em O Cabeleira
DOI:
https://doi.org/10.21680/1983-2435.2025v10n2ID37709Palavras-chave:
Franklin Távora, Espaço e Literatura, Sertão, Inferno, Literatura BrasileiraResumo
Na trama de O Cabeleira (1876), de Franklin Távora, a caracterização das personagens está estreitamente atrelada aos espaços aos quais elas se identificam dentro da capitania de Pernambuco — o Litoral, a Zona da Mata e o Alto Sertão. Na medida em que o romance se encontra no período tido por Cristóvão (1995) como o da representação do sertão como “inferno”, este estudo realiza uma leitura do episódio da travessia do Cabeleira pelo Alto Sertão, explorando o tema literário da catábase, a descida aos infernos. Com essa abordagem, busca-se analisar os contornos espaciais na narrativa de Távora sob um novo prisma e compreender de maneira mais aprofundada o desenvolvimento do protagonista em função do seu trânsito por esse espaço. Conclui-se que a jornada do Cabeleira pelo sertão não reproduz meramente a imagética da paisagem sertaneja como infernal, mas serve como um veículo para sua transformação pessoal e redenção — um inferno tornado purgatório. Ao conferir essa complexidade à representação desse recorte espacial, Távora vai de encontro às suas representações tradicionais e matiza a representação dos espaços literários associados à região nordestina. Este trabalho foi desenvolvido no âmbito de uma pesquisa de mestrado dedicada à análise da construção discursiva da categoria sertão na obra de Franklin Távora, com particular destaque ao romance em tela.
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