Transição entre modo e tonalidade no Século XVII em Cartella Musicale, de Adriano Banchieri

Resumo

O presente artigo aborda dois tratados, L’organo suonarino e Cartella musicale, de Adriano Banchieri. Monge da Ordem Olivetana dos Beneditinos, Banchieri foi conhecido por sua versatilidade intelectual comprovada por suas produções como escritor, compositor, organista e teórico da música. Seus tratados são referências teóricas e práticas das condições do processo de transição entre modalismo e tonalismo no início do século XVII. O objetivo deste presente artigo é evidenciar e avaliar alguns dos pontos básicos da contribuição de Banchieri para a compreensão do complexo processo de transição referido. Um dos aspectos essenciais deste processo na Itália é a configuração do sistema dos tuoni. A estratégia central de Banchieri neste processo foi adaptar os tons salmódicos ao teclado e incorporar as transposições já tradicionais para esta prática e, principalmente, associar a cada tuono as cadências para guiar o trabalho litúrgico ao órgão. O artigo parte de uma estratégia metodológica que confronta os conceitos teóricos de seus dois tratados – objeto deste artigo – com os exemplos práticos ali presentes, compostos pelo músico bolonhês. Para tal estratégia, é realizada uma recuperação da tradição medieval-renascentista, necessária para compreender a terminologia usada por Banchieri e destacar sua real contribuição para a transição ‘modal/tonal’ da qual foi partícipe. É possível concluir que Banchieri, ao dirigir seus dois tratados aos músicos práticos (especialmente aos profissionais organistas do período e de sua região), promoveu um conjunto de teorias que esclarece o papel das transposições dos modos para o estabelecimento de um aparato tonal.